Por que Rafael Correa se transformou num governante tão autoritário, capaz de polarizar o país?
Atrás da resposta a essa pergunta, as jornalistas equatorianas Mónica Almeida e Ana Karina López iniciaram uma investigação que recupera a trajetória de algumas gerações da família Correa, além da infância e da juventude de Rafael Vicente Correa Delgado, que governou o Equador por uma década (2007-17).
Curiosamente, o Rafael Correa que conhecemos hoje é o sétimo Rafael Correa de uma linhagem que nasce com um capitão espanhol que desembarcou no que hoje é o Chile, ainda no período colonial.
"El Séptimo Rafael" (ed. Aperimus, www.elseptimorafael.com) tem início em 1905, quando nascem os avós paterno e materno do político, e vai até 2009, quando, já no poder, ele convoca a Constituinte. Esse é tido pelas autoras como um momento de rompimento.
"A partir daí, ele se afasta de muita gente que o acompanhou e que até hoje não o reconhece mais. Foi o momento em que pudemos ver o que o poder faz com um homem", diz Almeida.
Ela acrescenta: "As pessoas não se transformam em autoritárias da noite para o dia, e o ego de Correa é grande. Nossa intenção era descobrir a origem disso, por isso buscamos a história de seus ancestrais."
ENREDO DE CINEMA
O livro mostra que a história dos "Rafaeis Correas" seria cinematográfica mesmo sem o mandatário. Uma família de classe média, mas com bons contatos e boa relação com figuras de poder, que embarcou no sonho do ciclo do cacau a enriquecer a costa equatoriana em princípios do século 20.
Ali, também encontraram a ruína financeira, foram acompanhados por mulheres fortes que levaram adiante a família em momentos de dificuldade, perderam terras e até meteram-se no narcotráfico. Por fim, obrigaram as novas gerações a viver na cidade, nem sempre em boas condições.
"Víamos as coisas que ele dizia sobre seu passado e, quando íamos olhar a realidade, nos dávamos conta de que cada coisa que ele dizia correspondia a uma meia verdade. Nada era inteiramente falso, mas tampouco totalmente verdadeiro."
Na obra, tem grande importância o colégio que ele frequentou, o San Jose de La Salle, de Guayaquil. Segundo as autoras, a doutrina rígida da instituição, que incluía castigos físicos, e depois sua experiência como escoteiro foram elementos importantes para formar um jovem que sempre quis se destacar.
O livro não traz declarações do presidente, que, como de costume naquilo que diz respeito à imprensa equatoriana, não quis dar entrevistas às autoras.
A ERA CORREA (2007-2017) Ex-presidente investiu na área social, mas pecou por autoritarismo
PONTOS POSITIVOS
Crescimento econômico Apesar da queda do preço do petróleo desde 2015, o PIB cresceu 36,2% em dez anos
Ascensão Social Bolsas e economia levaram pobreza a cair de 53% para 29% e a engrossar a classe média
Gasto Social Forte aumento de verba destinada pelo governo levou à expansão da saúde e da educação
Estabilidade Política Foi o primeiro a cumprir mandato desde 1996, no maior período democrático desde 1984
PONTOS NEGATIVOS
Autoritarismo Centralizou indicação e atividades de governos regionais e mudou lei para reeleição indefinida
Censura Por meio da Justiça e de estatais, perseguia jornalistas e limitava meios de comunicação
Endividamento Com a desaceleração a partir de 2013, governo não diminuiu gastos e aumentou dívida
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